quinta-feira, 1 de março de 2012

PAPEL SOCIAL DA ESCOLA


De: Regiane Soethe e Vanessa Mariot Pedro

Ouvimos constantemente, através dos meios de comunicação, cientistas sociais, jornalistas, professores, políticos, entre outros, dizerem que a escola é à base do desenvolvimento de um país. Uma sociedade que valoriza a escola seja ela básica, fundamental, profissionalizante, ou de graduação, englobando – a no amplo conceito de educação, e que traduz essa priorização em clamor social por políticas publicas eficientes, nesta área, estará destinada ao sucesso.
            Segundo Saviani (2003, p. 5) a constituição dos chamados sistemas “nacionais de ensino” data de meados do século XIX. Sua organização inspirou-se no principio de que a educação é direito de todos e dever do estado. O direito de todos à educação decorria do tipo de sociedade correspondente aos interesses da nova classe que se consolidará no poder: a burguesia.
            Ao analisar a história do século XIX, vimos que a colonização da Ásia e da África decorre da política imperialista do capitalismo. No continente europeu, a livre concorrência é substituída pela formação do capitalismo de monopólios, a concentração de rendas e conseqüentes disparidades sociais. Os choques entre as potencias imperialistas culminam no conflito armado na Primeira Grande Guerra (1914-1918).
            Em 1929 vivencia-se o impacto mundial gerado pela quebra da bolsa de Nova Iorque, seguida de falências, retração de mercado e desemprego em massa.
            Na Itália, o fascismo triunfa em 1922 com Mussolini, e em 1933 Hitler fortalece o nazismo na Alemanha.
            Depois da Segunda Grande Guerra (1939-1945) os EUA assumem definitivamente uma posição hegemônica na economia mundial.
            Desde o final do século XIX até a década de 40 aumentam as oportunidades de estudo. Daí decorrem mobilidade e ascensão social, sobretudo para a classe média.
            A burguesia utiliza a escola para impor a sua ideologia ao proletariado e enfraquecer a ideologia proletária, ou seja, atua sobre os trabalhadores de modo que diminua a visão ideológica que eles trazem de sua própria classe.
            Apesar disso, continua a ilusão de que a educação pudesse ser garantia de mobilidade social e de sucesso. Para essa concepção de educação, como forma de democratização da sociedade, muito contribuiu o ideário da escola nova.
            Saviani (2003, p.7) diz que a pedagogia nova começa, pois, por efetuar a crítica da pedagogia tradicional esboçando uma nova maneira de interpretar a educação e ensaiando implantá-la, primeiro, através de experiências restritas; depois, advogando sua generalização no âmbito dos sistemas escolares. 
            Para Bourdieu e Passeron (apud Saviani (2005, p. 69)) a educação escolar é unicamente um instrumento da burguesia na luta contra o proletariado. Em nenhum momento admitem que a escola possa ser um instrumento do proletariado na luta contra a burguesia.
            No entanto o papel da escola é transmitir conhecimentos acumulados e sistematizados pela humanidade para formar cidadãos críticos. Mas será que ela está cumprindo sua função ou está apenas servindo à um sistema comandado pela burguesia que não pretende formar pessoas pensantes?
            Para Saviani (2005, p.70) a classe dominante providencia para que o trabalhador adquira algum tipo de saber, sem o que ele não poderia produzir, se o trabalhador possui algum tipo de saber ele é o dono da força produtiva e no capitalismo os meios de produção são propriedade privada!
            A escola esta inserida em um processo histórico de eminentes interesses sociais, e muitas vezes inteiramente opostos. Dominada pela política que a rodeia, a escola acaba esquecendo do seu papel, que é o de educar pessoas para opor críticas, à sociedade.
No nosso sistema passamos por vários processos capitalistas, como as eleições em geral, o que deveria ser uma conquista histórica e democrática, acaba muitas vezes abalando o sistema escolar, com trocas simultâneas de professores. Com isso acaba afetando direto ou indiretamente a formação de alunos, e esses, no entanto deixando de ser sujeitos históricos conscientes.
Para Saviani (2005, p.14) (...) a escola é uma instituição cujo papel consiste na socialização do saber sistematizado. (...) não se trata, pois, de qualquer tipo de saber. Portanto, a escola diz respeito ao conhecimento elaborado e não ao conhecimento espontâneo; ao saber sistematizado e não ao saber fragmentado; à cultura erudita e não a cultura popular.
Com isso a escola não apenas contribui para uma democracia em sociedade, mas também exerce uma democracia participativa na própria escola.
Infelizmente os valores que as nossas escolas elegem, refletem na dificuldade em corresponder aos requisitos das mudanças sociais, ou seja, por traz de todo esse sistema existe grupos organizados, com interesses e objetivos muitas vezes diversos, que tendem a exercer o controle sobre a escola gerando efeitos negativos.
Em verdade a escola ainda continua a ser gerida por professores, que são melhores ou piores, mas que estão em certo modo preparados, para o que se diga de passagem, ensinar, e que aos poucos integram saberes à função social da escola.
Vemos então que a educação escolar se constitui numa forma de equalização social e encontramos no professor figura fundamental para que este processo se concretize.
Saviani (2003, p.8) diz que a educação, como fator de equalização social será um instrumento de correção da marginalidade na medida em que cumprir a função de ajustar, de adaptar os indivíduos à sociedade, incutindo neles o sentimento de aceitação dos demais e pelos demais. A educação será um instrumento de correção da marginalidade na medida em que contribuir para a constituição de uma sociedade cujos membros, não importam as diferenças de quaisquer tipos, aceitem-se  mutuamente e respeitem-se na sua individualidade específica.
Entende-se aqui por marginalizados aqueles que são diferentes, ou seja, não tiveram oportunidades de acesso à escola e a um conhecimento mais elaborado.
Nas suas origens a escola tinha essa função de equalização social, mas atualmente torna-se cada vez mais discriminadora e repressiva, evidenciando o seu real papel: reproduzir a sociedade de classes e reforçar o modo de produção capitalista.
Percebe-se então que a escola esta cada vez mais imersa em um sistema que atende prioritariamente à classe dominante, afetando direta ou indiretamente toda a estrutura escolar, principalmente os professores que são os responsáveis pela transmissão do conhecimento.
No entanto a sociedade em geral repassa toda a responsabilidade do fracasso da educação para os professores.
Para Saviani (2005, p.31) não se trata, pois de deslocar a responsabilidade pelo fracasso escolar que atinge as crianças das camadas trabalhadoras para os professores, escamoteando o fato que eles também são vitimas de uma situação social injusta e opressora.
Mas na maioria das vezes encontramos sim professores acomodados em suas aulas presos a um ensino tradicional e não buscam alternativas para um ensino mais significativo, enquanto outros que tentam inovar acabam sendo podados pelo sistema no qual estão inseridos.
Contrapondo isso, Saviani (2005 procurar) afirma que o trabalho educativo é o ato de produzir direta e intencionalmente, em cada individuo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens.
Daí que, para a educação escolar a pedagogia histórico - critica se propõe a tarefa de:
a)     Identificação das formas mais desenvolvidas em que se expressa o saber objetivo produzido historicamente, reconhecendo as condições de sua produção e compreendendo as suas principais manifestações, bem como as tendências atuais de transformações.
b)     Conversão do saber objetivo em saber escolar, de modo que se torne assimilável pelos alunos no espaço e tempo escolares.
c)      Provimento dos meios necessários para que os alunos não apenas assimilem o saber objetivo enquanto resultado, mas apreendam o processo de sua produção, bem como as tendências de sua transformação. (Saviani 2005, p.9)
Então podemos concluir que a atividade escolar constitui-se na transmissão dos instrumentos que permitem a apropriação do saber elaborado, com a preocupação da aquisição de conteúdos, da formação de habilidades, hábitos e convicções.
Saviani (apud Aranha, 1998, p.220) diz que se a escola não permite o acesso a esses instrumentos, os trabalhadores ficam bloqueados e impedidos de ascenderem ao nível de elaboração do saber, embora continuem, pela sua atividade prática real, a contribuir para a produção do saber.
Por isso é que devemos lutar cada vez mais por um ensino igualitário e pela qualificação dos professores para que estes possam desempenhar o seu real papel na sociedade.       

  
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SAVIANI, DermevalPedagogia Histórico Crítica – Primeiras Aproximações. 9. ed. São Paulo: Autores Associados, 2005.

SAVIANI, DermevalEscola e Democracia – Polêmicas do Nosso Tempo. 36. ed. São Paulo: Autores Associados, 2003.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. História da Educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996.



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